Thursday, September 1, 2016

Comparação das propostas para a saúde dos planos de governo dos candidatos a prefeito de São Paulo


A estratégia dos candidatos este ano segue a linha de tentar agradar ao número máximo de subgrupos específicos, que infelizmente é a direção individualista para a qual a maioria das democracias está caminhando. Neste post, tentei resumir as propostas com base nos temas com maior destaque ou mais repetidos nos planos de governo, com o objetivo de ignorar esses acenos a grupos de interesse. A ordem dos candidatos está apresentada de acordo com a sua intenção de voto nas pesquisas. Os planos estão disponíveis no site do TSE.


Russomano 

Eu desconfio que o capítulo sobre saúde foi o TCC de um aluno de graduação, devido ao abuso do senso comum e aos dados que parecem retirados da Wikipedia. A candidatura aparentemente tem como objetivo fazer com que a saúde “funcione de forma eficiente e resolutiva, adotando adequado sistema de gestão e organização”, mas não fornece pistas sobre o que isso significa.

Por outro lado, o projeto menciona que a taxa de mortalidade infantil será o principal foco do candidato, o que eu apoio fortemente. A mortalidade infantil ( < 1 ano de idade) é um ótimo indicador da situação de saúde devido à alta vulnerabilidade dos recém-nascidos aos fatores externos. O candidato promete “aprofundar o alcance” da meta referente à mortalidade infantil presente nos Objetivos do Milênio, mas não menciona que o prazo era 2015 e o Brasil a alcançou.

Em geral, o projeto tem muitas críticas banais à atual gestão e promessas de fazer melhor, mas poucas metas concretas. Segundo o plano de governo, para melhorar a saúde “não é necessário empreender nada mirabolante”. Dou nota 6 para esse TCC.


Marta

O plano de governo da Marta é o oposto. Uma imensa lista de metas, sem tempo para as platitudes do plano Russomano. A primeira meta é informatizar o sistema de saúde por meio do prontuário eletrônico, o que eu acho excelente. O potencial da digitalização da saúde em diminuir a repetição de exames, as filas para consultas e os erros de diagnóstico é imensa. O projeto promete também criar o Prontuário Eletrônico do Paciente, que na verdade já existe e é a grande marca do atual prefeito na área da saúde.

A segunda meta é criar uma coordenadoria para fiscalizar as Organizações Sociais (OSs), o que também é interessante. As OS têm um potencial de melhorar a atenção à saúde, mas se continuarem desreguladas num ambiente sem competição, continuarão a reproduzir os mesmos erros dos outros modelos de atenção.

Foram incluídas mais algumas dezenas de metas para a área da saúde, algumas boas, outras pouco relevantes, mas nenhuma polêmica.


Haddad

Como esperado, o plano do Haddad não poupa elogios ao Haddad. No capítulo sobre saúde, são incluídas como conquistas a criação de ciclovias e parques e a diminuição da velocidade nas Marginais. Os avanços na atenção à saúde são eventualmente mencionados e os principais são consequência da informatização do sistema, como a Rede Hora Certa, o Aqui tem Remédio e o prontuário eletrônico.

Em relações às metas específicas, a primeira é “estabelecer a participação e controle social como método de governo, fortalecendo os Conselhos e as Conferências de Saúde”, o que eu considero uma queda em relação às prioridades dos outros candidatos. De resto, as metas são direcionadas para ampliar os programas da atual gestão, o que pode indicar um cansaço administrativo e de ideias.


João Dória

O plano de governo do João Dória segue a linha de bullet points, o que me agrada, mas o conteúdo é um pouco frustrante. Os tópicos iniciais são comentários gerais sobre a melhoria da atenção à saúde. O primeiro ponto específico é acelerar a informatização da saúde, um tema que eu acho muito importante, como mencionado anteriormente. Assim como Marta, Dória promete a implantação do prontuário eletrônico integrado, que já existe e só precisa ser ampliado. O objetivo, segundo o plano, é evitar a “duplicação de exames e procedimentos que encarecem e sobrecarregam o sistema de saúde”, que é um bom diagnóstico dos problemas do nosso sistema de saúde e que tem o apoio de todos os economistas da saúde.

A meta seguinte é unificar o gerenciamento das vagas de internação com o governo do Estado. Isso parece uma boa ideia para os próximos dois anos, mas vai gerar muitas brigas desnecessárias se um outro partido for eleito no futuro. Além de uma menção breve sobre um programa de atendimento a usuários de drogas, chamado de Recomeço, as outras metas são referentes a melhorias da gestão de saúde sem muitos detalhes.


Conclusão: na minha opinião, o melhor plano de governo, considerando somente a área da saúde, é o da Marta.


Nota: a candidata Luiza Erundina foi desclassificada por propor a "criação do Imposto Voluntário”, cujos recursos "serão destinados a um fim, claramente determinado”.